cai de bicicleta & maju trindade postou um vídeo. #03
"Maju, aproveite seu tempo pra cuidar dessa linda alma de seda que habita dentro de você."
Eu vejo propósito e beleza em muita coisa. Como na vez em que peguei um voo um dia depois do planejado, voltando do Rio de Janeiro, num acento de janela que não era pra ser o meu e ouvindo o momento em que o instrumental de “Veludo Marrom” da Liniker (que tinha lançado o Caju um dia antes desse momento) explode, vendo o sol se despedir. Eu amo por do sol, amo o Rio de Janeiro e acredito que esse dia a mais que tive na cidade maravilhosa mudou mais coisas na minha vida do que eu possa imaginar. E, decolando, deixei as lágrimas caírem enquanto eu me arrepiava com a junção de tudo aquilo.
Hoje, fiz 20 km pedalando, com duas das pessoas que mais amo nesse plano. O dia tava super chuvoso, fizemos a maior parte (se não todo) do trajeto debaixo de uma chuva que me fez enxergar ainda mais beleza naquele momento. Gritei “a vida presta” inúmeras vezes, enquanto nós três riamos e levávamos pingos grossos de água. E no final do nosso percurso, quando eu já ia entregar a bicicleta (coisa de 30 metros da estação de entrega), meu chinelo (sim, pedalei de chinelo) derrapou e o pneu foi direto num desnível do asfalto. Cai de lado e fui meio arrastado por mim mesmo no meio fio, numa chuva do caramba! E no meio da rua, sem ciclo faixa. Ficou tudo bem, só tinha um carro na pista, que diminuiu ainda mais a velocidade e quase parou pra prestar socorro mas viu que minhas amigas pararam e foram ao meu encontro.
Fato é que fazia tempo que eu não caia de bicicleta e lembro que quando criança, vivia caindo. Assim que aprendi a pedalar, eu fiquei viciado e pegava a bicicleta do meu primo pra poder rodar o condomínio da nossa avó nas férias. Lá, tinha uma ladeira enorme e com a fama de derrubar os pirraias que gostavam de ser radical. Eu era um desses. Lembro de uma vez que eu perdi o controle da bicicleta no meio da ladeira (que tinha uma lombada, vale ressaltar) e terminei o percurso embolando junto com ela. Essa brincadeirinha me custou inúmeros arranhões nas duas pernas e braços. E o “samboco” do dedão do pé arrancado (que também era minha especialidade na infância. eu sempre chutava o chão.)
Assim que eu cai hoje, lembrei desses momentos. Tipo um edit do tiktok em forma de flashback, sabe? E ai você me pergunta: você ficou feliz? E eu te respondo: sim, mas não com a queda em si. Fiquei feliz pq acessei essas memórias e ralar meu braço hoje me lembrou que estou vivo. No geral, na vida, eu sempre lembro disso. Não sou do tipo de pessoa que vive no automático. Como comecei falando, eu vejo beleza em tudo e nos pequenos detalhes da rotina, mesmo em dias mais estressantes. As vezes o simples cheiro do café na cafeteira na minha sala corporativa de trabalho já me acalenta o coração. Fomos andando até um hotel chique que tinha perto de onde deixamos a bicicleta, ainda debaixo de chuva e com meu braço sangrando, pra pegar uber moto (nenhum carro ia aceitar a gente ensopado daquele jeito) e percebemos que um cachorrinho da rua foi nos seguindo. Na verdade, me seguindo. Era como se ele tivesse aparecido pra confirmar o que eu já sabia: que tava tudo bem, que eu tinha vivido um momento massa com minhas amigas e que esse pequeno detalhe da queda não mudava absolutamente nada do dia incrível que eu tive.
Quando eu parava, ele parava também. Quando eu andava mais rápido, ele andava mais rápido. E quando chegamos na entrada do hotel (do lado de fora), ele ficou paradinho com a gente. Pedimos nosso uber e ele meio que entendeu isso e seguiu seu rumo depois de uns 5 minutos. Fiquei refletindo sobre tudo. Eu sou muito assim. Cancelei um date com um querido que to ficando (que ficou preocupado com toda a situação mas eu tranquilizei) e passei o resto da tarde deitadinho vendo série e pensando sobre como eu amo estar presente nos momentos, mesmo o de dor.
Atualizando o youtube, vejo que a Maju Trindade tinha acabado de postar um vídeo de mais de 40 minutos, falando sobre uma experiência que ela teve no Japão, um lugar que ela sente uma conexão absurda. Não vou falar muito sobre o vídeo (mas você pode assistir aqui, vale SUPER a pena), mas ela fala exatamente sobre as coisas que passei o dia de hoje pensando: como quando a gente está sensível a gente vê mais propósito nas coisas e como estar presente de verdade nos momentos faz toda a diferença. Me emocionei demais com várias das coisas que ela relatou sobre a experiência que ela viveu lá e essa frase, dita por um dos sócios do ritual do matchá (desculpa não dar tanto contexto sobre isso, mas ela detalha tudo no vídeo, vai assistir!!) ficou muito marcada em mim: “Maju, aproveite seu tempo pra cuidar dessa linda alma de seda que habita dentro de você.”
E eu acho que é isso que eu estou vivendo (e tentando viver) não só de agora, mas já há algum tempo. Agora também me considero uma “alma de seda”, sensível mas firme. Há tempos, me sinto muito mais vulnerável as coisas da vida e não vejo isso de uma forma ruim. Eu sinto que consigo aproveitar mais as oportunidades da vida, aos momentos com os meus, mesmo sabendo que pode acabar em quedas ou outro tipo de dor. Porque quando entendemos que sentir dor faz da gente ser humano, tudo fica mais tranquilo. Ora, não é porque existia o risco de cair de bicicleta que eu iria deixar de fazer 20km num clima delicioso. É como se eu não pensasse nos riscos, mas na experiência. Porque a vida tá no momento vivido, não nas estatísticas.
E, sabem, eu sempre amei mais o trajeto de uma viagem de carro do que o destino final, seja ele qual fosse.